A rosa mareada

A Rosa Mareada confirma e expande o talento de Rogério Batalha. Nas escolhas das palavras, da sintaxe e do corte, sempre preciso dos versos, o livro nos reapresenta os elementos com que compõe, a partir da casualidade dos acontecimentos, a dicção dura de seus poemas. A diferença entre o desejo burguês do poeta proletarizado de Rosa do Povo e o poeta jogado na sarjeta do vasto mundo deste A Rosa Mareada vem do fundo das escolhas e da vivência de um e de outro. A Rosa metaforizada na rosa socialista carece da experiência das desrosas dos que raquíticos sob zinco/ descem o morro para trabalhar/ às quatro e quarenta da manhã/ marcham tristes para as fábricas/ em busca de vale e cesta básica.A ancestralidade do rito não mais a serviço do encantamento burguês, mas distendido até o fio da navalha, até o corte e o sangue, que a memória (do país, das lutas inglórias, da chibata) explosiva e definitiva grita nos versos magistrais pelo poder de síntese que trazem.Dolorosa e necessária, a poesia de Rogério Batalha cumpre o seu fado, encontrar no mais ínfimo das vivências sujas, a beleza que explode como uma bomba neste país de máculas antigas.

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