Mercado de engenhos

Este é um livro de poesias que contém um ensaio, intitulado “Vida suspensa”. A obra, como um todo, encerra uma reflexão sobre como o corpo que respira, dissolve-se e esgota-se no fluxo das mercadorias. Trata-se dos corpos de imigrantes, negros, mulheres, LGBTTQIA+, indígenas e de todos os que ameaçam o projeto branco e neoliberal pela simples manifestação da sua alteridade.É possível que o título Mercado de engenhos leve o leitor a pensar nos engenhos de cana da época do Brasil colônia. Não estamos muito longe disso. Por trás do projeto colonial, expansionista, capitalista, há também máquinas de moer corpos, com a exploração, a escravização e o extermínio de outros povos. Mas esse livro reflete também a criatividade, a engenhosidade humana (inclusive a artística) que pode ser usada para tornar mercantilizável o nosso corpo, a nossa forma de estar no mundo. Transformamos em mercadoria tanto as pinturas de natureza-morta (em que há a exposição de um corpo vivo, flores, frutas, carnes, que acabam apodrecendo se a exposição for muito demorada), quanto técnicas de meditação (que consistem em voltar-se absoluta e unicamente para o corpo, a matéria que nos coloca no aqui e agora, num processo de esvaziamento de mente, das ideias e dos pensamentos). Essas e outras reflexões estão no livro de Alexandre Faria. que culmina na apresentação de um corpo erótico, sonoro, dançante, saída possível, transgressora, libertária e resposta inquietante às crises do mundo contemporâneo.

Autor

  • Alexandre Faria nasceu no Rio de Janeiro em 1970. É poeta, escritor, mestre e doutor em Estudos Literários e professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, onde dá aulas, orienta trabalhos de mestrado e doutorado e faz pesquisa teórica e prática na linha de Criação Literária. Manteve por mais de 15 anos projeto de pesquisa sobre literatura marginal/periférica e colaborou na FLUP – Festa Literária das Periferias, onde já ministrou várias oficinas e orientou muitos jovens escritores. Publicou, além dos livros na TextoTerritório, ”Lágrima palhaça” (poesia, Aquela Editora, 2012), ”Literatura de subtração” (ensaios, PapelVirtual, 1999), ”Anacrônicas” (ficção, 7Letras, 2005; TextoTerritório, 2013), ”Urânia” (poema-postal e curtametragem, TextoTerritório / Maria Gorda Filmes, 2009), ”Olhos Livres” (Poesia e livro-objeto, Macondo, 2016) e “Prenda” (poesia infantojuvenil, Guismofews, 2021). Organizou os livros ”Modos da margem – figurações da marginalidade na literatura brasileira” (Aeroplano, 2015 – com João Camillo Penna e Paulo Roberto Tonani do Patrocínio); ”Outra – poesia reunida no sarau de Manguinhos” (TextoTerritório, 2013); e ”Anos 70 – poesia e vida” (UFJF, 2007).