oourodooutro reúne poemas que cobrem 26 anos. Muitos deles foram publicados originalmente em blogues e sites, ou mesmo no Facebook. A decisão de reuni-los em livro deveu-se ao recrudescimento de ações autoritárias, com a intransigência e o conservadorismo que vão crescendo no Brasil.O livro quer se uma ação que se oponha à maneira pouco reflexiva como questões sérias e complexas da sociedade passaram a ser objeto de disputa de opiniões, quase sempre agressivas e violentas, mas sem disposição para enfrentar os problemas com a complexidade de um pensamento que aborde as contradições e as dificuldades que lhe são inerentes.Os poemas não apresentam claramente uma posição partidária. Refletem mais as complexas contradições da sociedade brasileira. Apesar da extensão temporal do período de criação dos poemas, o livro guarda uma unidade, quer pelo aspecto temático, quer pela maneira como torna central a questão da alteridade. Daí o título, oourodooutro, que, se por um lado remete ao processo de exploração colonial do Brasil, por outro indica esse valor especial que existe na alteridade, mas sem negar a dificuldade que é minerá-la. Os poemas, então, vistos no conjunto, assumem várias vozes, ora de oprimidos, o pobre, o índio, o negro, a mulher, ora de opressores, dentre os quais não deixa de estar o próprio poeta e escritor que se dispõe a representá-los, com uma linguagem inevitavelmente demarcada como branca, masculina, heteronormativa, que caracteriza a tradição literária brasileira. Isso expõe as contradições e cria uma espécie de mosaico polifônico.Visualmente, o livro busca uma linguagem mais suja, mais e sujeita a interferências gráficas. A edição obtém esse efeito (que o próprio título representa por juntar tudo numa única palavra) através do desrespeito às margens, à mancha gráfica e ao próprio limite da página. Além disso, incluí manuscritos que seriam capazes de criar esse efeito visual, mas que também dialogam tematicamente com o livro.