Categoria: Poesia

  • Rapace

    Rapace, o livro de estréia de André Capilé é jogo matreiro de linguagem. Rapina de aves que se arrogam o direito e o dever de entortar o apaziguado estar do sujeito bem posto, do homem de bem. Rapinar é repaginar a vida reentrar nas novas diretrizes da poesia brasileira. Os poemas do livro travam uma briga com determinadas facilidades, uma programação de fossos de leitura ou corrida com barreiras, que obriga a atenção detida, na medida em que é necessário olhar/ouvir mais de uma vez. O autor comenta: “rapace, com sorte, pode ser visto como livro-manifesto.” De fato os poemas apontam para uma gama variada de cenas que desmentem certas questões da crítica contemporânea de poesia, como a que afirma que projetos coletivos são impraticáveis; que a questão do “nacional” não é um problema; que há despolitização e alienação. Ser brasileiro, sim, é dado; mas o Brasil ainda é uma questão, cada vez mais, discutível. De qual Brasil falamos, quando falamos Brasil?”, provoca o autor.

  • Chabu

    Chabu é madeira de lei da cara de pau das relações comezinhas, de si e com outros, no tabuleiro posto dos amores falidos e peças caídas. Convite a virar o jogo, não só da vida mas da expressão poética. De tanto dar chabu vão se descobrindo as possibilidades do dizer, do desfluir das água claras que se espantam com qualquer turbilhão de movimento quando vem de lá da poesia.

  • Tecido invisível

    Tecido invisível é, antes de tudo, um livro afirmativo, positivo, o que o torna sempre necessário, mas principalmente em tempos sombrios como os atuais, de adoecimento e de distanciamento social, mesmo depois das exigências da segurança sanitária que vivemos na recente pandemia. Os poemas levantam-se contra esse tempo por meio da memória e da experiência da vida, mas da vida mesmo, sem mediações. A única rede que nos unia para prorrogar o tempo/ era feita de fios de ovos/ pão com manteiga, discursos e versos/ sem zap, sem face, sem insta, sem fone/ e nenhuma vergonha / de ser o que se é/só fome de afeto/ confidências com café, diz o poema “Confidências”, estabelecendo bem a medida da potência dos versos de Vilma Costa. Assim, o tecido invisível que permeia os poemas é o mesmo que elabora nossa vida, nossos sonhos, desejos, perdas e conquistas. É a matéria sutil que respiramos cotidianamente, sem mesmo nos darmos conta. É o sentido que nos equilibra e nos faz dispostos a dizer sim para o que der e vier. E seguir, porque simplesmente vivemos, e isso pode ser lúdico, prazeroso e festivo. Mas para que essa consciência seja possível, há que se ter militância. Não é fácil, nem simples, nem natural. Vilma Costa está consciente dessa dificuldade e milita, em seus versos, pela afirmação radical da vida. Para isso, a poeta maneja a linguagem na direção da acessibilidade, da comunicação direta e sensível, do encontro e da comunhão.