Tag: Brasil

  • Terra presente

    Terra Presente reúne momentos variados, desde flashes de Vila Isabel, de minha infância, de nosso cotidiano, até a época conturbada de 68, incluindo a reflexão sobre a própria linguagem de poesia. Trata-se de um só poema dividido em partes e subpartes; cada uma focaliza aspectos distintos ou dá sequência a esses mesmos aspectos. E todas as partes, não obstante desenvolverem facetas diversas, têm um denominador comum: a busca de uma terra mais concreta e democrática. Este livro vai em todos os momentos, até naqueles em que predomina o lirismo, para Carlos Alberto, o Comprido, pela coragem no sofrimento. Vai também para o Marinho, que se lançou de um prédio, mas este poema o aparou. E para toda uma geração que viveu por avenidas e subterrâneos de esperança.

  • Fenda

    Entre o sertanejo é, antes de tudo, um forte de Euclides da Cunha e o dia em que o morro descer e não for carnaval de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro, escancara-se na República dos Estados Unidos do Brasil uma fenda, uma fissura tempo-espacial, um buraco negro que acumula imagens e clichês de um Estado e de um Povo que também possuem entre si outra fenda, um vão muitas vezes intransponível. Mind the gap, atenção para o vão, como as vozes metálicas das estações de metrô, é o que este livro de oswaldo martins pretende dizer. Os poemas de fenda constituem-se como pontuadores de uma narrativa épica brasileira. Eu conto e o senhor põe ponto, diria o jagunço do Grande Sertão. É claro que o leitor não encontrará na poética oswaldiana o conto, a fábula. toda narrativa capaz de engendrar ilusões sobre as ideias de pertencimento, cidadania, republicanismo no Brasil é, aqui, voluntariamente omitida. O poeta põe apenas os pontos e com eles traça retas e planos que trazem à tona o que é sistematicamente silenciado. Vira do avesso o buraco negro dessa história e compõe, como um curador atento, uma galeria de personagens e fatos que unidos no revés histórico (…) pespegam no nosso mundo / faíscas de luta e liberdade”. com os poemas de fenda o estatuto da cultura aflora da radicalidade dos versos como extrato de raízes profundas de um brasil supostamente esquecido ou relegado, mas que é, sim, sistematicamente silenciado à bala. oswaldo martins é um poeta incontornável do panorama das letras brasileiras do século XXI. A cada livro compreende-se mais a construção de uma obra sólida e estável. Sugerimos que o leitor observe a coesão entre a repontuação da história dos poemas de fenda, as blagues e os chistes das desimitações, e os delírios verbais de manto. esses livros compõem uma trilogia (involuntária?) em que as questões da ordem pública, da política, do mundo supostamente organizado, são milimetricamente postas à prova pelos versos de um lirismo enxuto, evidência de que até a emoção, como pretensamente é encontrada no sentimentalismo dos versos até hoje românticos, precisa ser revista e reinventada em nome da poesia e de seu poder de subversão.